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A verdade dos fatos
Indígena em trabalho de parto que esperava resgate em aldeia dá à luz após trabalho de pajé

A indígena de 35 anos da etnia que esperava resgate na Aldeia Santa Cruz, na Terra Indígena Mamoadate, na região de Assis Brasil, interior do Acre, deu à luz a um menino na madrugada desta sexta-feira (10) após ficar quase uma semana em trabalho de parto e aguardando resgate.

A Associação Manchineri da Aldeia Extrema (Mappa) chegou a pedir às autoridades para que agilizassem o resgate da mulher por medo dela morrer na localidade. O líder indígena Ninawa Huni Kui, que também faz parte do Conselho de Saúde, disse que o bebê nasceu de parto natural após o trabalho do pajé.

“O bebê nasceu um pouco inchado e a mãe um pouco debilitada, mas, sem risco de morte”, informou. Os familiares chegaram a achar que o bebê havia morrido, porque a mãe estava fraca e com hemorragia.

O pedido da família era que o resgate fosse feito por helicóptero devido à distância, já que a viagem leva cerca de dois dias pelo rio. Ao g1, o gestor de Políticas Indígenas, Vanderson Brito, confirmou, na noite desta quinta, que conseguiu o resgate aéreo para a indígena no final da tarde.

A equipe do Samu iria fazer o resgate na manhã desta sexta, mas a missão foi cancelada depois que o parto foi feito pelos indígenas.

Também na manhã desta sexta, a Justiça ordenou que os órgãos da saúde fizesse o resgate da indígena com remoção área. “Segundo o que foi relatado, a mulher entrou em trabalho de parto e foi atendida segundo os costumes e tradições de seu povo, conforme é direito das populações indígenas, porém durante o trabalho foi constatado que o bebê estava sentado no útero, dificultando o parto normal”, diz nota do Ministério Público Federal do Acre (MPF-AC), que fez o pedido.

“O juiz que decidiu sobre o caso ressalta que não se pode ignorar a necessidade de se estabelecer diálogo intercultural e respeitar a tomada de decisões pelos próprios indígenas sobre seus direitos e questões existenciais inalienáveis, o que demandaria prévio esclarecimento e consentimento sobre a remoção aérea da paciente para fins de receber tratamento médico urgente e adequado. Não obstante isso, no caso específico, já existem elementos suficientes para determinar a urgência, tendo sido imposta multa de R$ 2 mil por hora em desfavor da União, Estado do Acre e Município de Assis Brasil em caso de atraso no cumprimento da ordem judicial”, destacou a decisão que saiu após o parto ocorrer.

Resgate pelo rio

A coordenação do Distrito Sanitário Especial do Alto Rio Purus (Dsei Alto Rio Purus) explicou que foi informada da situação na última terça-feira (7), por volta do meio-dia, e acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Contudo, a equipe não pôde ir no mesmo dia.

Na quarta (8), foi solicitado apoio aéreo do Dsei Rio Juruá, porém, os profissionais avisaram que não havia possibilidade de voar por conta do mau tempo. Com isso, o resgate foi alinhado com uma equipe de bombeiros e profissionais da Saúde Indígena de Sena Madureira.

A equipe saiu de Sena Madureira de voadeira nesta quinta. “Já se deslocaram para lá. Foram bombeiros, um enfermeiro e um técnico nosso, da Sesai, para lá. É a única via que temos, por terra, não tem [possibilidade] aérea devido às condições climáticas. A gente não poderia esperar, e optamos por acionar os bombeiros”, explicou a coordenadora substituta do Dsei Alto Rio Purus, Silviana Amaral.

O Samu informou, por meio da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre), que foi feito o contato com Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), com o Exército e a Polícia Federal, mas, devido às condições climáticas, não foi possível ir até o momento na localidade.